roldana e caminho

Não saber que o caminho é a verdadeira Importância, é como passar pela vida apenas com o intuíto de chegar à morte.

O rolamento arranha o caminho, ambos fartos da sua inutilidade.
São de materiais diferentes, dão-se mal.

Caminho

O caminho sabe o seu propósito,
mas a roldana acha que foi feito para si,
julga que é esse o seu único propósito.

Será.
…mas o caminho quer ter outra função
e quem é alguém para dizer qual a utilidade de outrem?

A porcaria da roldana é só um bocado de lixo futuro,
ou, na melhor da hipóteses, será um dia entulho para construir o caminho.
O caminho sabe da sua importância e portanto despreza a inutilidade dos que o usam apenas para chegar a outras desimportâncias.

Não saber que o caminho é a verdadeira Importância, é como passar pela vida apenas com o intuíto de chegar à morte.

De qualquer maneira, mesmo que alguém queira ir por outro sítio que não o caminho, nunca o conseguirá. O caminho será sempre o que fôr caminhado. Mesmo que se escolha ir por caminho nenhum, será esse o caminho.

Um dia…

Um dia
vou ser estupidamente feliz, vais ver!

não só durante um dia, mas
consistentemente feliz,
irremediavelmente feliz,
ininterruptamente feliz.

nesse dia vou ser alto,
vou ser belo,
vou inspirar confiança
e vão querer dizer-me olá só por ser eu

Nesse dia vou colher um ramo de rosas
ou de tulipas
ou, se calhar, flores silvestres
depois vou atá-las à cintura, num molho
como se fosse uma espada
e quando parar à tua porta
não vai ser preciso tocar.
O perfume da única flor que reste,
encontrará o teu nariz adormecido
e assim que a desembainhar
virás colhê-la da minha mão
, ansiosa por te abraçar,
e depois desse abraço…

depois,
não sei,
mais nada
por isso
ser tudo.

Vânia, Outubro de 2013

Elo

Tenho saudades tuas, do teu sorriso paciente, do teu ombro quente, onde poisar a cabeça.

Tenho saudade de ter coração, em vez de escombro. sinto falta da oração, como a que fazias todas as manhãs: a oração ao croissant, a reza do São Chocolate, ou a ladaínha da Santa Compota de Morangos Silvestres. Tenho saudades de pintar paredes contigo, com marcadores e lápis de cera, tenho saudades de fazermos de estátuas…

assim

de repente. Tenho saudades de receber visitas e lhes servir gelado de bróculos, ou então aqueles rissóis de chocolate, que adorávamos ver escorrer pelos lábios ultrajados dos convidados, (que pensavam ser de marisco)!

tenho saudades do futuro que tínhamos, com 5 filhos, viagens foleiras por não termos dinheiro para mais e muito mais felicidade do que o seria humanamente possível,
e a falta da tua perna quente a procurar-me na cama!

Ah! Com mil diabos, como me fazem falta os três mil elásticos de cabelos que deixavas pela casa toda

e os nomes que me chamaste quando lavei a tua camisa favorita junto com as minhas meias coloridas, mudando-lhe a cor para sempre!

acho que sou superficial
só gosto de ti por coisas
não te mereço…

Migalhas

Sinto muito mas não vou medir palavras
Não se assuste com as verdades que eu disser
Quem não percebeu a dor do meu silêncio
Não conhece o coração de uma mulher
Eu não quero mais ser da sua vida
Nem um pouco do muito de um prazer ao seu dispor
Quero ser feliz
Não quero migalhas do seu amor
Do seu amor

Quem começa um caminho pelo fim
Perde a glória do aplauso na chegada
Como pode alguém querer cuidar de mim
Se de afeto esse alguém não entende nada
Eu não quero mais ser da sua vida
Nem um pouco do muito de um prazer ao seu dispor
Quero ser feliz
Não quero migalhas do seu amor
Do seu amor

Não foi esse o mundo que você me prometeu
Que mundo tão sem graça
Mais confuso do que o meu
Não adianta nem tentar
Maquiar antigas falhas
Se todo o amor que você tem pra me oferecer são migalhas
Migalhas

Eu não quero mais ser da sua vida
Nem um pouco do muito de um prazer ao seu dispor
Quero ser feliz
Não quero migalhas do seu amor
Do seu amor
Sinto muito mas não vou medir palavras
Sinto muito

Erasmo Carlos

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