Onde acabas?
Acordo sempre forte,
pronto a derrotar o mundo
mas a benção dura menos do que minutos.
Penso-te outra vez.
e nunca mais paro, até me render (outra vez) ao sono.
Aí, onde nunca entra nada, nem sonho, nem pesadelo;
aí finalmente deixas-me em paz…
…ou nisso onde estou quando tu não
nunca espécie de lago inerte
nada dói, nada assusta
mas nada entusiasma
nada frui.
Etiqueta: Poesia
Que seja sempre Verão – Pablo Alborán
.
Finges que as coisas não me doem
que a tempestade não voltará
Creio em cada palavra da tua boca
Mas se escondes mais do que uma derrota
Não adivinharei tua pele
Sei que não te dás bem com o meu passado
às vezes tendo a correr
A canção onde destruo a tua armadura
Tenho coragem para me esquecer das dúvidas
Mas há finais que não quero prometer
Aperta-me a mão
Que seja sempre verão
Que o nosso amor não dependa das vezes que nos digamos “te amo”
É simples, não precisa de muito trabalho
é olharmo-nos nos olhos
E sentir que há ali algo
Tu acendes
E eu apago as luzes
Há lágrimas que não vais entender
Se iluminas, que seja toda a nossa sombra
Se ilumina-la imediatamente nos destrói
Será melhor deixar de ver
Eu sei, não te dás bem com as minhas ausências
Não há vez em que não queira voltar
Se o teu riso é a mais bela das fontes
A razão de todas as pontes
Não me quero proteger do teu destino
Aperta-me a mão
Que seja sempre verão
Que o nosso amor não dependa das vezes que nos digamos “te amo”
É simples, não precisa de muito trabalho
É tremer em cada passo
Enquanto me vou aproximando
É olharmo-nos nos olhos
e sentir que há ali algo
Tradução livre de “Que siempre sea verano” de Pablo Alborán
Que se foda a poesia erótica.
Foder um homem é necrofilia
Que se foda a poesia erótica
Contra uma parede
acabe-se-lhe com a sede
sufoque-se-lhe o pescoço
Poesia é coisa de velha
Arrepanhar lábios,
contra lábios
é de lenda
Não se é mulher, porque se quer
para ser berço é preciso colo
não é preciso força, nem falo
isso é para usar e descartar
como um acessório sem valor,
irrisório
Os homens não percebem o prazer
só sabem da sua braguilha
não percebem a virilha
não sabem que tem que doer
não sabem que amor
também é foder
Toda a mulher é ilha
toda a mulher é mãe
é boca, é cheiro, é mão
pode não ser filha
mas será sempre pão
Foder um homem é necrofilia
não se pode entrar num homem
é um ser inanimado
um homem por dentro é oco
é fisiológico,
não tem nada de elevado
Uma só mulher tem tudo,
mesmo que seja fútil,
imprestável, intragável ou inútil
ainda assim será sempre mais
do que um homem
Que não seja mal entendida,
um homem também tem valor
um homem tem lábios, mas são só lábios.
Uma mulher tem o mundo,
cheiros,
calor
e tudo isso… só nos lábios.
Onde um homem acaba
uma mulher ainda não começou.
Os Caminhos que corremos (ou se o soneto fosse assim)
As ideias novas que temos
são ideias de que nos esquecemos
O mundo novo que aparece
é só o que o mundo velho esquece
Não vemos nada
e somos o que vemos
a originalidade é uma cópia adulterada
O que virmos ser, seremos
As ideias novas que temos
são ideias de que nos esquecemos
O mundo novo que aparece
é só o que o mundo velho esquece
Não que não valha a pena inventar,
não que a procura não importe
é exactamente o contrário
Só é importante criar
desacreditar a sorte
Viver sendo temerário
E se ainda não fizermos nada novo
se tudo o que nos sai, já tiver sido antes
não nos ralemos com o povo
nem com o que dizem entredentes
o que sempre importou foi o caminho
mesmo se tivermos que o fazer sozinho
Para sempre poetamor
Alguém me diz quando é que o amor durou para sempre?
Alguém me diz quando é que o amor durou para sempre?
há por aí catervas de poetas a dizer que o amor é eterno.
É o raio que os parta!
Já me desprezei por ter rompido com amores eternos dezenas de vezes
e eu sou ainda petiza!
Enganam-nos toda a vida com a porcaria das princesas
e dos seus finais sempre felizes!
Não há um poeta; Um único que não seja malogrado!
Nunca existiu um poeta que fosse bem sucedido no amor!
Estou farta, cansada e batida.
O amor de que falam é tesão!
esse cansaço que dizem ser a essência da vida
é puríssima treta, completa desrazão
Eu quero tempo, quero carinho e quero tempo!
Não preciso de mulheres, não preciso de homens,
não preciso de amasso, não preciso de roço
não sou um cão que se aquieta com osso
Quero tempo, preciso de abraço
preciso de tempo com pessoas a sério
de falar e pensar com critério
preciso de silêncio acompanhado com gente
até que a beleza me seja indiferente.
As estéticas, as formas e até os conteúdos
deviam ficar todos mudos;
surdos.
E eu seria só abraço
tudo seria abraço
sem calor, nem cansaço
não precisava de durar muito
só todo o tempo
só para sempre.
… que falta
escolho o fácil: deixar que a vida me viva em vez de eu a ela
Queria chorar, mas já não sei
estou tão fraco, quase a implodir
Queria afagar-me no teu colo, mas sei que o faria por egoísmo,
nem sequer prefiro o teu colo, apenas o escolho por ser o mais fácil
devia acabar-nos, mas não tenho força nem tu vontade.
Estou igual aos outros, sem força para seguir o caminho que sei certo, mas difícil
por isso escolho o fácil: deixar que a vida me viva em vez de eu a ela
Os pensamentos encarquilham-se-me e parecem querer enganar-me.
A mim! Que nunca antes deixava que o Ego me levasse a melhor!
…agora deixo e nem me importo.
Vivo de cor e salteado, sou um verdadeiro sábio, adivinho tudo o que vão dizer e já tenho a resposta programada antes da pergunta ser feita!
Vou inscrever-me num clube de qualquer coisa e competir para ser melhor que os outros, não importa em quê, o que importa é que esteja ocupado e que o meu prodigioso intelecto se concentre em alguma coisa que não isto. Tenho a certeza que vou ganhar – ganho sempre! Mas depois vou concorrer rapidamente a outra coisa qualquer, para ter que me concentrar de novo..
Depois, quando finalmente tiver a paz enganadora da falta de vontade, vão todos homenagear-me, dar-me comendas e discursos bonitos, talvez até me façam um busto de bronze! Todos vão achar que fui muito importante e exemplar – até eu! …mas só até ao penúltimo momento da vida, porque aí…
Aí vou perceber o que realmente é importante, aquilo que até os parvos sabem, mas que a minha fantástica mente não terá alcançado até então.
Março 2006