Dedicatória delicada

Vai pró raio que te parta
não mereces nada
Desnasce de uma vez

Olha lá ó meu asqueroso chupista
Tu já viste que que a única coisa que produzes de útil
é esse estrume desnutrido quando vais à casa-de-banho?
porque as fezes que dizes são tóxicas
e isso apenas pode ser descartado para um aterro devidamente isolado,
junto com o material radioactivo.

O que tu dizes não é nuclear, é antimatéria.
É mais vão que o oco, mais inútil do que adoçante no mel.

És mais estúpido do que o próprio conceito.
O ar que inspiras, fica irrespirável
és uma doença contagiosa, um vírus purulento.

Mereces tudo
alteres, bigornas, guilhotinas,
lançados de muito alto, pela cabeça abaixo.
Que todas as pestes te persigam
que todas as doenças te matem
e depois te ressuscitem
para te matar outra vez

Vai pró raio que te parta
não mereces nada
Desnasce de uma vez
.

Os Caminhos que corremos (ou se o soneto fosse assim)

As ideias novas que temos
são ideias de que nos esquecemos
O mundo novo que aparece
é só o que o mundo velho esquece

Não vemos nada
e somos o que vemos
a originalidade é uma cópia adulterada
O que virmos ser, seremos

As ideias novas que temos
são ideias de que nos esquecemos
O mundo novo que aparece
é só o que o mundo velho esquece

Não que não valha a pena inventar,
não que a procura não importe
é exactamente o contrário

Só é importante criar
desacreditar a sorte
Viver sendo temerário

E se ainda não fizermos nada novo
se tudo o que nos sai, já tiver sido antes

não nos ralemos com o povo
nem com o que dizem entredentes

o que sempre importou foi o caminho

mesmo se tivermos que o fazer sozinho

importâncias

EspíritoMenteCorpo

O melhor dos alunos do mestre desabafou que o sexo era coisa que não o interessava, era quente demais, tinha cheiros demasiado intensos e provinha do desejo.
O sexo provém de excesso de desejo e leva também a ele, portanto é necessariamente desequilibrado.

O mestre, depois da costumeira pausa, replicou:
Tal como aquele que não se lembra do espírito, não conseguirá elevar-se até ele, também o que se esquece do corpo, não conseguirá tirar dele o que o atleta consegue.
O teu raciocínio é excelente e o teu domínio do espírito também avançado, mas o que sabes tu do corpo e das suas leis? Aprendeste tudo, mas para saber é preciso praticar.

Anjo da música (ou Sol)

Numa manhã difícil, esse anjo da música veio fazer-me cafuné com a voz.

Às vezes, para me acompanhar na escrita, gosto de ter música de fundo. Não escolhi; deixei que os circuitos electrónicos de um computador o fizessem por mim aleatoriamente. Deram-me de presente o “Ponto de Luz” da Sara Tavares.

Nunca me tinha ocorrido que as bênçãos pudessem vir sob a forma de megabytes, mas a verdade é que nunca manhã difícil esse anjo da música veio fazer-me cafuné com a voz.

Obrigado Sara Tavares, és um Sol.

Morreu-se-me

Enfim termina neste dia, o verdadeiro que tentei ser-te.
Ser-te-ei mais perfeito e útil, menos eu, mas menos inútil.
Deseja-nos sorte, vamos precisar
Tu tão tu e eu tão nada
temos ainda tanto que caminhar…

Sempre achei que não gostavas do que eu pinto porque terás mais talento do que eu
e por isso ser-te-ia penoso veres os meus trabalhos sofríveis.

Também sempre pintei mais do que tu, mas nunca melhor…

para mim pintar é um real prazer e, mesmo que por vezes me mova a esperança de um reconhecimento improbabilíssimo, a grande maioria das vezes pinto apenas por puro deleite, sem objectivo nenhum que não o próprio acto de o fazer.

Nunca fui, nem serei tão bom pintor como tu. Sabes como misturar as cores, sabes como e quais os pincéis a utilizar e consegues reproduzir exactamente o que a tua mente imagina.

Disseste-me: “Não pintes a esta hora, os pincéis fazer demasiado ruído para uma hora tão tardia”

Hoje descobri que não desgostas da minha arte
simplesmente a achas execrável
inferior, reles, inglória, inútil e sobretudo
incómoda e desconfortável
não com aquele sentido que os artistas gostam de dar,
aquele que indica que a arte é tão boa que só maus se sentem incomodados por ela.

Tu és boa.
e, por isso, o incómodo e desconforto da minha arte não é meritório,
é-te um pau de giz a zurrar num quadro de lousa,
é um talher a raspar aos gritos num prato.
É isto que te inflijo quando pinto.

Peço-te que me perdoes por querer alegrar-te da mesma forma que alegrei tantos antes de ti;
esses que me pediam desenhos e que me aplaudiam sem razão.

Fui arrogante ao pensar que poderia alguma vez soar bonito aos teus olhos,
esses olhos habituados a perfeição e beleza.
Não são essas as minhas formas e cores, nunca serão
por isso hoje aqui te juro que jamais me verás pintar
jamais te chegará algum quadro meu por minha mão.

Não posso jurar não pintar nunca, porque eu sou pintar
não posso afiançar que te nunca cruzarão o olhar cores da minha paleta
Mas se o destino assim quiser, não será por minha vontade ou mote

Terei em ti mulher, como até agora,
mas, como nunca antes, terei nas telas amantes
chegarei tarde, inventarei desculpas,
mentir-te-ei com todo o engenho que souber
Também não posso prometer que não haverá bastardos,
mas posso também firmar que não te serão por mim apresentados

Enfim termina neste dia, o verdadeiro que tentei ser-te.
Ser-te-ei mais perfeito e útil, menos eu, mas menos inútil.
Deseja-nos sorte, vamos precisar
Tu tão tu e eu tão nada
temos ainda tanto que caminhar…

Religião MEC

Há uma religião que recomendo a toda a gente.

Tem apenas uma obrigação:

Miguel Esteves CardosoLer diariamente o que escreve Miguel Esteves Cardoso.

Eu sou assinante do Público por essa exclusiva razão. Não que os outros ilustres produtores de conteúdos daquele jornal não sejam merecedores de toda a consideração, mas o “forretismo” não me permite gastar dinheiro senão com bens de primeira necessidade. A inteligência, graça e virtuosismo com que o MEC escreve são ímpares!

Eu sei o homem é gordo, é snob e muitas vezes escreve sobre coisas sem interesse, mas se tudo o que é desinteressante fosse escrito como ele faz, seria tudo muito mais.

Sendo assim resta-me dar os parabéns a todos os outros cronistas, porque ser cronista depois de saber que o MEC existe é muito mais difícil…

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