Ti
Julho 2008
Categoria: Poesia
Primavera
Todo o amor que nos prendera,
Como se fora de cera,
Se quebrava e desfazia.
Ai funesta Primavera,
Quem me dera, quem nos dera,
Ter morrido nesse dia.
E condenaram-me a tanto,
Viver comigo meu pranto,
Viver, viver e sem ti.
Vivendo sem no entanto,
Eu me esquecer desse encanto,
Que nesse dia perdi.
Pão duro da solidão,
É somente o que nos dão,
O que nos dão a comer.
Que importa que o coração,
Diga que sim ou que não,
Se continua a viver.
Todo o amor que nos prendera,
Se quebrara e desfizera,
Em pavor se convertia.
Ninguém fale em Primavera,
Quem me dera, quem nos dera,
Ter morrido nesse dia.
David Mourão-Ferreira
Adão e Eva – José Régio
Por toda a minha vida
Eu sei que vou te amar
não consigo deixar de amar
é sempre assim,
depois de começar
a amor nunca mais tem fim
Por toda a minha vida eu vou te amar
e quando para ti eu for só
um resquício de memória
limpo com um trapo do pó
sem sequer ter história
Em cada despedida eu vou-te amar
e vão ser tantas, tantas!
quando perceberes que não me queres
as vezes serão quantas?
que me partirás o coração quando fores
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
e por mais que fuja
não vou conseguir
limpar a minha alma suja
de tanto te perseguir
E cada verso meu será para te dizer
que eu sei que vou te amar
por mais voltas que dê
encontro-me sempre aqui
onde tudo o que se vê
foi feito para ti
Por toda minha vida
para sempre, sempre, sempre
estás entranhada na minha pele
mesmo que não me lembre
o meu coração tem-te nele
Eu sei que vou chorar
como uma fonte
carpir até ficar seco como papel
vazio, deixado num monte
vagando ao vento como fel
A cada ausência tua eu vou chorar
e como faltas… quando faltas…
fica tudo vazio, como que sugado
até para as árvores mais altas
não há Sol, está tapado
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
e levar as nuvens, a tristeza,
a saudade e a desalegria
fica só o bom, a leveza
e fica o teu nome Maria
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
e para sempre vou querer
mas nunca me vais dar-te
ainda assim nunca vou aprender
a não ficar vazio quando o teu ser parte
Por toda minha vida
toda a minha vida…
toda a vida…
a vida..
vi…
Ti (Vinícius)
Outubro 2006
Capitão Romance
Não vou procurar quem espero
Se o que eu quero é navegar
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar.
Parto rumo à primavera
Que em meu fundo se escondeu
Esqueço tudo do que eu sou capaz
Hoje o mar sou eu…
Esperam-me ondas que persistem
Nunca param de bater
Esperam-me homens que desistem
Antes de morrer
Por querer mais do que a vida
Sou a sombra do que eu sou
E ao fim não toquei em nada
Do que em mim tocou
Eu vi,
Mas não agarrei…
Parto rumo à maravilha
Rumo à dor que houver pra vir
Se eu encontrar uma ilha
Paro pra sentir
Dar sentido à viagem
Pra sentir que eu sou capaz
Se o meu peito diz coragem
Volto a partir em paz.
Eu vi,
Mas não agarrei…
“Capitão Romance” – Ornatos Violeta.
Herberto Hélder
E por dentro do amor, até somente ser possível amar tudo, e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.