Cansaço

Não é por teres feito muito,
não é por estares cansada,
não é por estares deprimida.

Estás cansada porque não tens razão para acordar de manhã,
tens nada teu – é só o que queres ter.

Tens vontade de nada,
queres coisa nenhuma.

E agora nem o espicaçar resulta
Estás morta por dentro,
e já se vê por fora.

Pára!
Faz, ou suicida-te.

Ti           
Setembro 2008

Mataram o Saddam.

Mataram o Saddam.

Tal como os primitivos da nossa espécie, matamos os que matam.
Talvez seja por uma questão de solidariedade. Assim o primeiro assassino deixa de ser o único e talvez assim a sua culpe diminua, por ser partilhada.

O que é que nos torna humanos?
Certamente que não são as reacções primárias. Essas todos os animais têm.
Gosto de quem tem a arrogância de querer ser superior a isso.

Ti           
Agosto 2010

Viclo Cicioso

– Olha lá, afinal vamos ou não vamos acabar de ver o filme?
– Tu gostas mesmo do filme?
– O que eu quero é estar contigo, não importa onde, nem a fazer o quê.
– Bonito… Isso é realmente muito bonito de se dizer.
– Mas eu não digo por ser bonito, digo porque sinto.
– Eu sei. A questão é: Como é que te consegues enganar tão bem?
– O quê?
– Tu percebeste.
– Lá estás tu outra vez a falar por enigmas… Não sabes ter uma conversa de gente? Com o sujeito antes do verbo, como toda a gente?!
– Sei, mas a forma que tenho de dizer o quero às vezes não se compadece com as regras gramaticais.
– Por falar nisso… Já arranjaste maneira de ganhar a aposta que fizeste com o Alfredo?
– Hã? Aposta!
– Sim, aquela do “imenso”.
– Ah, isso. Como é que lhe posso provar que “imenso” pode ser um adjectivo?
– Pois não sei, tu é que és o casmurro que tem que ser sempre do contra. Agora arranja-te.
– Baah, deixa lá, eu pago-lhe um jantar e pronto, não se fala mais nisso.
– E depois queixas-te que nunca tens dinheiro…
– Pois, e não tenho.
– Não sabes poupar!
– Pois não.

– Vá lá, não ponhas os pés em cima da mesa.
– Desculpa, tens razão.
– Dá-me um beijo.
– Porquê?
– Porque eu te estou a pedir
– Se calhar se me desses tu, eu respondia-te.
– Mas eu não chego aí.
– Eu podia dizer que a distância é a mesma, mas isso cansava-me ainda mais, pega lá…
– Agora já não quero.
– Quero eu.

– Estúpido!
– Obrigado.
– És mesmo parvo, magoaste-me!
– Eu só te dei um beijo!
– Deixa-me em paz!
– Deixo.

– Não sei…
– Eu sei.

– Vá, agora fica sossegado porque vai começar a segunda parte.
– Ah… finalmente um intervalo.
– O quê?
– Nada. Queres que apague a luz?
– Não, deixa estar, chega-te mais para o pé de mim. Dás-me um beijo?
– …
– Au, picaste-me… Olha o John Travolta!
– Pois é.
– São tão fixes estes serões contigo…
– Pois são… E contigo também.
– Hum?
– Ele ainda dança bem!
– Pois é.

– Para que é que foi isso?
– Porque gosto de ti.
– Mas ainda há 3 minutos eu estava muito longe para tu me dares um beijo!
– Pois…
– Pois.

– Parece que estou a beijar uma parede!
– Porque será?
– Estás a ver? Se eu não beijo é porque não beijo, quando beijo, não respondes!
– Claro! É tão raro que até fico aparvalhado!

– Vá dá-me lá um beijo…
– Outra vez?
– Não, desta vez a sério.
– Pega…
– Ai! Tens que cortar esse bigode ridículo. Picaste-me!
– Desculpa. Não te dou mais beijos.
– Podes dar.
– A sério? Obrigado!
– Oh.

– Ah, como nos damos bem!
– Até damos!
– Pois claro, muito bem!
– Estás a ser irónico, não estás?
– Hum… Deixa-me pensar…
– Estás.
– Estou?
– Lá estás tu armado em parvo!
– Gosto mesmo de ti.
– Gostas mesmo?
– Não.
– A sério?
– Não.

Ti         
30/05/2006

Ditadura da Ciência

A evolução do mundo tem que passar necessariamente pelo descobrimento ou redescobrimento daquelas coisas que estão para além da ciência habitual.
Aquelas coisas que nos acontecem e que não sabemos explicar, mas atribuímos imediatamente a algum “erro de processamento” do cérebro.
O caminho a traçar é o mesmo que foi trilhado pelos pioneiros da ciência actual…
Questionar. E resolver as questões.
Por vezes assiste-se a algo muito parecido com a ditadura ideológica que era imposta pela igreja na idade média, mas agora a ditadura é imposta pela ciência.
Talvez pela grande fiabilidade da Ciência e Tecnologia actuais, deixamos de reconhecer tudo o que não seja avalizado por estas.
Num tempo em que até a Igreja precisa de provas para reconhecer os seus santos, como é que podemos combater a Ditadura da Ciência?

Ti.         
Set. 2005

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