Saltei do comboio!
Esse onde seguem todos excepto os que saltaram comigo.
Ainda o consigo ver no horizonte
e sei que se aligeirar o passo ainda o consigo alcançar
Podia voltar ao comboio e ser de novo o seu rei
mas, se calhar, deixava de ter valor para mim próprio
e assim não me conseguiria suportar.
Tenho um horizonte imenso à minha frente,
mas menos força para o palmilhar
do que a que tinha nas outras vezes em que saltei dos outros comboios
Tenho mais sabedoria, mas menos coragem
tenho mais idade, mas também estou mais velho
Estou naquela altura da viagem em que tivera eu vontade
e podia ultrapassar qualquer comboio,
ou até construir o meu próprio comboio
e levar quem quisesse vir comigo.
Tenho a sabedoria e arrogância,
mas falta-me a vontade, só isso!
E apesar de saber que as pernas têm força e velocidade
não consigo convencê-las a correr
e mesmo sabendo por onde é que tenho que ir
não consigo começar o caminho
Por isso é que ainda aqui estou,
atirado ao chão por mim mesmo
sem conseguir ir em nenhuma direcção
mesmo sabendo
que os abutres começam a acercar-se
e que o único modo que há de não acertar
é ficando parado,
à espera
bastava mexer-me,
bastava tentar,
já saltei do comboio
e para isso foi preciso coragem (ou medo)
mas não serve de nada
se agora ficar
em vez de prosseguir
o medo de seguir pelo caminho errado
parece impedir-me de andar
e logo eu que sei tão bem
que o único modo de acertar
é seguindo um caminho
para quando se chegar ao final
descobrir se acaba ali
ou se retomamos a caminhada
por não ser o caminho certo.
Seguir pelo caminho errado está certo
parar é que é pecado.
E eu…
estou parado.
.
Ti
Abr 2006