Poetas

Há quem diga que o artista tem que ser livre; não tem que se importar com forma, conteúdo ou objectivo, mas isso seria fazer nada e fazer nada é coisa para monjes ascetas, não para criadores.
O artista faz arte e isso tem que ser alguma coisa.

Há um desescrever nos poetas que me dá asco!

Escrevem ao contrário, torto, sem sentido
só porque sim.
Há quem diga que o artista tem que ser livre; não tem que se importar com forma, conteúdo ou objectivo, mas isso seria fazer nada e fazer nada é coisa para monjes ascetas, não para criadores.
O artista faz arte e isso tem que ser alguma coisa.

pess2

Depois há outras coisas:
Poetas que não são bêbados,
que não fumam,
que fazem jogging, ou running
Isso não são poetas.
Poetas são decrépitos,
são à-rasca,
Comem porque calha
lavam-se porque ralham
E são feios.
Se não tiveram a sorte de nascer deformados,
deformam-se eles de uma forma trágica.

O poeta tem que ser chanfrado!
Os outros são uns merdas e vão todos acabar sozinhos com toda a gente,
como toda a gente.
O poeta, vai ter-se para sempre.

Crise económica

Os “especialistas” dizem que Portugal vai ter uma recessão enorme, que pode chegar aos 15% e isto nas piores previsões!
Há muito tempo que eu suspeito que a “grande economia” é baseada em nada.
Obviamente que eu não sei nada de economia, porque tenho a certeza que o rombo económico será muito maior do que isso.
O meu problema é que as minhas previsões são baseadas na realidade. Eu sei que os negócios da minha rua estão todos fechados e estarão por vários meses e sei que a facturação dessas pessoas reduziu-se para zero! Eu sei que na minha rua a economia terá reduções superiores a 50% este ano. Mas isto é só na minha rua e na minha cidade, porque são reais!
Já no mundo da banca, finanças e economia globais, tudo é diferente.
Dinheiro que aparece do nada é fácil de repor.

Resta a esperança de que os especialistas sejam de facto e que eu seja só um fala-barato!

porcaria (ou consideração em Si menor)

Você é um ser desprezível!
Não por ser vil ou sequer desagradável,
apenas por não ter utilidade nenhuma

Si menor2Quero agradecer-lhe,
tenho toda a consideração do mundo por si,
que me lê
mas isto por si só, não lhe dá mérito,
poderá é dar-se o caso do mérito
ser motivo de consideração

mas considerando que
a consideração que lhe tenho
deve-se apenas ao facto de me estar a ler
e por isso me massajar o ego,
tenho que concluir que o que tenho por si
não é verdadeiro,
é só agradecimento por me reconhecer.

Mas se me reconhece por esta…
porcaria
descubro que não tenho qualquer consideração por si
porque isto que aqui lê
não é mais que perda de tempo, não tem valor

E, se V. Exa., gasta olhos e tempo e energia
a ler esta porcaria
não é dotada de qualquer mérito,
e merece de mim, portanto,
desprezo

Termino este agradecimento,
retirando-o
e desejando-lhe as melhoras!

Você é um ser desprezível!
Não por ser vil ou sequer desagradável,
apenas por não ter utilidade nenhuma
e, por isso, pode
e deve
ser desprezado.

hoje ainda não rebentou nada

Hoje ainda não rebentou nada,
mas não me sinto melhor
continua o pó na estrada
e no ar o mesmo fedor

ExplosionHoje ainda não rebentou nada,
mas não me sinto melhor
continua o pó na estrada
e no ar o mesmo fedor

continua a cheirar a morte
mas estou de pé e posso contar esta história
devia achar que sou bafejado pela sorte
que um dia esta guerra trará glória

mas sei que como todas,
também esta guerra serve para nada
Não vão mudar vontades, nem sequer modas
no fim vão ficar vazios e buracos na estrada

Os que tinham razão e os que não tinham,
vão viver ou morrer
Alguns vão achar que ganharam alguma coisa
terão até a arrogância de celebrar a vitória.
Dirão que ganhou a virtude, que acabou a escória
Tudo melhorará enquanto o pó poisa

Mas quando tudo assentar
não serviu para mudar nada,
descobrir-se-á que a guerra serviu para matar
não mudou a humanidade, nem o preço da empada

melhorarão as esperanças dos que ganharem
arruinar-se-ão ideias que iam mudar tudo para melhor,
e os que sobreviverem, os que ficarem
aprendem novos hinos de cor

uma vez mais vencerá alguém,
alguém perderá
Não vai ganhar o Mal, nem o Bem,
o nada vencerá

Mas não será desta que se aprende.
nem tudo se compra e vende.
Há coisas mais importantes que nós
e valerá talvez a pena morrer por elas,
mas matar não tem nada abaixo
o lodo da virtude é isso.

Uma só atitude pouco importa,
mas uma só atitude tudo infecta
se a linha em que vens foi feita torta
é tua missão fazê-la recta.

EndofWar

Não tenho esperança, nem me é possível redenção
mas para vós, os que vêm em mim bafio bolorento
há audácia, possibilidade e regeneração
haja vontade, coragem e alento!

Sigam! Fazei o que manda o coração
ignorai experiência e velhos medrosos
fazei tudo novo, cagai na oração
sede apaixonados e fervorosos

Adorem o deus verdadeiro,
que é menos que qualquer um de vós
Damascoque deixe da haver macho, fêmea, paneleiro
acabem a pontas soltas e os nós

Agarrem na virtude e no pecado
e queimem-nos como às bruxas do passado

Construam um mundo novo, porra!
baseado somente em felicidade
em que a sobrevivência morra
e se extinga a crueldade

meça-se a riqueza em riso e que errar seja treinar,
que todo o rosto seja liso e as rugas só para enfeitar

 

ou então façam a mesma merda outra vez
Pode ser que daqui a mil anos
tenhamos aprendido a degustá-la como ao vinho.
Seremos escanções de trampa
e teremos a vida que merecemos
finalmente.
Como uma praga de baratas,
depois de extinto o exterminador.

Tocs de tacão. (ou texto inútil)

Foi aquele que achou que o que foi, foi mau; como se a árvore fosse pau e as costas que açoita fossem tidas no achamento de culpa.

A noite cai lenta e pesada
mas não se aleija, fica só amassada
A mulher, que vestia amarelo vivo,
antes do Sol debandar
agora carrega um beije deslavado
que a desiluminação pública não deixa brilhar

Faltam 20 tocs de tacão da mulher para a meia-noite e em breve as suas passadas passarão a ser mais sinistras,
porque depois, alumiadas, já têm sombras e perigos possíveis.
Nunca houve um único crime em locais sem sombra. Nem um na história de toda a humanidade, até porque há uma lei natural, que muito poucos conhecem, que diz que onde não há sombra, não há crime. Aliás aqueles que temem o escuro são tolos. No escuro não há sombra e, por isso, a única coisa a temer é o próprio. Nada de mau virá de outros no escuro, já de si próprio…
O precipício não se coloca no caminho do incauto só porque está breu.
O mal não foi parido pela Maldade! Foi aquele que achou que o que foi, foi mau; como se a árvore fosse pau e as costas que açoita fossem tidas no achamento de culpa.

Enquanto pensamentos fogem do nexo, a mulher de vestido ex-amarelo-vivo agora está realmente preocupada com a sensação de estar a ser seguida. – Se calhar até está, mas tudo o que acontece, será fatalmente seguido por outra coisa. – A questão aqui será se a mulher estará ou não a ser perseguida – este prefixo muda pouco, mas a insanidade latente disfarçada de perfeccionismo deste relato, torna dificílima a descrição que se quereria lógica, tornando-a praticamente ininteligível.
pencil_sketch_15276344288111922766423.pngA mulher entretanto partiu um tacão e parece agora ter calçado uma sabrina no pé esquerdo enquanto mantém o tacão altíssimo no pé direito, reduzindo assim para metade os tocs do seu caminhar cada vez mais tenso. Poderíamos saber como se partiu o mencionado tacão, não fosse a parvoíce de quem nos não descreve a acção, simplesmente para se perder em idiossincrasias ou, melhor dizendo, ideoapatias que servem só para quebrar o ritmo e a vontade de ler o resto da estória.
Opa! E lá vai outro tacão – mais uma vez teremos que ficar sem saber como é que isso aconteceu, mas pelo menos agora podemos conjecturar que terá sido a própria mulher que decidiu sabrinar o outro sapato para efeitos de equilíbrio. Apesar disto, um narrador mais competente, certamente notaria que a mulher agarra o tacão com o seu punho fechado, como que preparando-se para o usar como arma.
Mas o que temos é uma descrição na qual não se percebe qualquer ameaça, a não ser a das sombras e a ausência de toc-tocs que os ex-sapatos-de-salto-alto agora não fazem.

A mulher está já numa passada no limiar da corrida, dando pequenas corridas intercaladas com passada menos rápida os tocs que antes se ouviam, agora recomeçam a ouvir-se, não se percebendo se são outros tacões que os fazem, ou se é o próprio coração da mulher, que cada vez se faz ouvir mais alto.
A tensão aumenta e pela cabeça da mulher passam imagens de facas ensanguentadas, pássaros perversos que debicam cabelos e zombies que arranham portas desesperados. A tensão é tanta que agora a mulher não consegue ouvir mais nada, só a ofegância das goladas de ar que lhe entram e saem pela garganta contida para não gritar.
Tudo isto caminha para um final inevitavelmente trágico, apesar das referências que ocorrem à pobre mulher não serem mais do que reminiscências daqueles filme de terror manhosos que o seu ex-marido adorava e a obrigava a assistir no “home-cinema” que instalara na cave de sua casa.
E enquanto se imagina a cave de uma personagem menos que secundária, assim se perde a protagonista, que desapareceu, talvez por ter dobrado a esquina, ou até por se ter desmaterializado, como tudo fará um dia.
Devia ser este o final da estória, porque em boa verdade nada mais há a contar, mas a contaremos ainda as palavras, que serão seiscentas e oitenta e oito, pelo último ponto final.
Fica a conclusão e até a moral final para quem as quiser fazer, quanto à pusilanimidade desta estória, fica uma espécie de ideia de coisa.

Falta de classe

Rosas

Hoje sou todo força , tusa, raça.
Não me apetecem palavra amenas, nem amizades profundas.

Hoje apetece-me a paixão do nosso novo Amor,
apetece-me a tua mão esquecida dentro da minha, no Sol errado duma esplanada no inverno.
Quero descobrir o perfume que escondes detrás do pescoço, tapado pela displicência desse quase cabelo loiro.
Quero amarfanhar essas coxas tesudas enquanto me deixas sangue de morder lábios.
Quero levar-te de mão dada. ver rebentar o mar de chuva e vento. e ver o infinito nas curvas dengosas em que terminam essas pernas que me atormentam o sono.

%d bloggers gostam disto: