mãos

Como eu gostava de ser como as pessoas!
Podia Amar…
assim, como elas
e dizer coisas estúpidas, tipo:
“Fica comigo para sempre”
ou “Sou tua”.
era tão bom se eu fosse assim, como elas são.

Podia sentir-me desejada por aqueles homens que se babam quando uso saia,
ou até amada por aqueles que insistem em dizer que me querem para sempre.

Não sinto.

Acho que é uma maldição. Esta de me ser impossível sentir.
Dizem que os homens não choram, se calhar sou um homem!
Há também quem diga que isto é um trauma qualquer que sofri no passado,
provavelmente um desgosto de amor.
Já ponderei essa hipótese e fiz tudo o que podia para tentar encontrar em mim algum trauma,
fiz hipnotismo, yoga, fumei haxixe e falei com Deus,
mas não consegui que nada disso me traumatizasse!

Vou pregar pregos com as mãos
, nas mãos

Vânia
28 Abril 2006

Desculpa

Eu não tinha o direito de te fazer apaixonar por mim, não tinha o direito de te fazer pensar que sou melhor do que as outras, não tinha o direito de te seduzir, não tinha o direito de fazer amor contigo.

Agora estás perdido, vazio e com o coração em traçalhos, tudo é negro, enorme, forte demais e mesmo assim… pouco importante.

Não sabes o que é verdade; não sabes sequer o que é real.

Agora vêm aí os que gostam de ti – e são tantos! Acham que és lindo, por seres, acham que és o homem da vida deles, porque és melhor que os outros

Não és.

És o homem da tua vida.

Não deixes que as tuas fraquezas decidam a tua vida, faz antes que sejam as tuas forças a conduzi-la.

Desculpa ter-te feito pensar que éramos para sempre… como eu gostava que fossemos. Tentei vezes sem fim amar-te como mereces, mas eu não mereço amar alguém assim.

Vou ficar apaixonada por algum traste… em vez de ti – o melhor dos homens.

O teu carinho queima-me como ferro em brasa, porque sei que cada toque que me dás, é mesmo dedicado a mim, porque sei que a paciência, dedicação e Amor que tens para comigo, não tens com mais ninguém.

Isso faz-me especial,
mas também me faz ainda mais culpada.

26.Out.2007
Vânia

Escuro

desde que és que sempre foste a mulher da minha vida,
a minha vida é que nem sempre é minha
às vezes deixo-a escapar-se-me por entre os dedos

já comecei a carta para ti uma dúzia de vezes,
mas nunca consegui escrever alguma coisa realmente importante

É difícil dizer qualquer coisa, quando não se tem a certeza de existir
e é difícil sentir qualquer coisa, quando não se existe
não sei se existo

os sentimentos não se devem sobrepor à razão,
a razão não deve subjugar os sentimentos

a única coisa que importa é o que sinto por ti
e eu não tenho sentimentos

eu penso que gosto de ti,
mas isso não se pensa,
sente-se.

Sentes?
O dia está escuro,

como o mundo

ou será só o meu?

Ti.         
Fev.2008

Tu e eu

Isso tem algum jeito? – perguntou ela com aquele meio sorriso nos lábios que ainda hoje não me deixa dormir, nas noites em que dele me lembro.

Pensei para mim próprio que sim, que tu valias muito mais, que valias a vida em si própria, que te amava…

O que eu disse foi:

– Claro! Não que tu mereças, mas pronto!

Respondeste:

– Não mereço? É… – enquanto me fazias cócegas que se confundiam com beijos, numa daquelas comunhões que aconteceram muitas vezes intercaladas por…

Dez minutos depois disseste-me pela primeira vez:

– Amo-te.

Fingi não ouvir e perguntei:

– O quê?

Olhaste-me no fundo da alma pelos olhos, e depois de fazeres um sorriso dos que só tu sabes fazer e que vão ficar para sempre marcados nas entranhas da memória, repetiste com brilho nos olhos lindos, lindos:

– Amo-te!

Fiquei enorme, maior que tudo, mas mesmo assim pequeno para o coração a querer estoirar de felicidade. Apertei-te nos braços com força, Puseste a língua de fora, a mostrar que sufocavas, afastei-me de ti o suficiente para te olhar nos olhos e beijei o teu sorriso.

Ti.         
Dez.2005

O Eclipse

Olá, boa noite!
Dia estranho hoje, abafado, quente, agoirento! Lá estou eu a preocupar-me com coisas sem importância nenhuma, ainda por cima quando só restam parcas horas ao mundo e mais importante do que isso… a mim!

Os especialistas dizem que o eclipse é só mais um, que já houve uma data deles e que o mundo não acabou em nenhum, por isso também não era desta.

Pelo sim pelo não resolvi vir para o meu sítio favorito – o cimo desta pedra, que simboliza não-sei-o-quê-e-nem-quero-saber-até-porque-o-mundo-está-a-acabar-e-eu-tenho-mais-em-que-pensar!

Enfim, nem eu sei porque é que este é o meu local favorito, mas o que é facto é que sempre que preciso de pensar ou estar sozinho, dou comigo no cimo deste penedo a olhar para o céu, o mesmo céu para que olha o padre da minha freguesia, completamente impávido e sereno tentando convencer-se que essas coisas de o mundo acabar são “crendices” do povo, o mesmo céu para que olha a outra metade do meu coração na outra metade do mundo, o mesmo céu que viu nascer o mundo, os homens, a evolução, a revolução, a poluição, a constituição, a colonização, o mesmo céu que fez nevar no dia um (desde que se conta), o mesmo céu que me viu nascer atónito, o mesmo céu que hoje nos vai desabar em cima!

É a olhar para ele que penso em ti!

É à medida que ele se aproxima que eu te amo mais!

Vai ser quando ele me esmagar contra a terra quente e fofa, que me vou arrepender de tudo o que não te disse, dos beijos que não te dei, de todos os minutos que perdi a pensar como é que podia estar contigo, em vez de estar simplesmente. Vai ser aí que vai doer todo este tempo sem te ter – não por não querer, mas por não saber e ter medo de descobrir!

Bom, mas não falemos de coisas tristes, porque o saldo até é positivo, por isso é que parto com tristeza, porque se fosse negativo, com certeza não me importava de partir!

Vou levar recordações lindas imensas:

O teu sorriso – a maneira com ris com os olhos semicerrados, valia a pena a vida só para ver o sorriso dos teus olhos, sem côr na minha memória por não conseguir vê-los todos nas imensas escassas horas que passei a olhá-los.

Estou a ficar sem tempo e ainda não consegui dizer que és o que de mais importante há na minha vida!

Está a ficar frio… muito frio!

Estou leve… muito leve… 

Ti.
Dez.2005

Vácuo

É como um aspirador no fundo das entranhas
leva tudo,
menos a dor,
aguda…

Quem dera ser novo e poder enganar-me sem perceber
mas não consigo,
sei de quem é a culpa
por mais que tente pôr a razão para tudo o que é mau nos outros,
não consigo fazer-me ver que assim é.

O sábio diz que é bom sinal, que estou a ficar como ele,
mas ele não é egoísta, ele não quer ser feliz, quer ser bom.

Eu sou só como os outros, quero que não doa…

Ti          
Dezembro 2006

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