Mataram o Saddam.

Mataram o Saddam.

Tal como os primitivos da nossa espécie, matamos os que matam.
Talvez seja por uma questão de solidariedade. Assim o primeiro assassino deixa de ser o único e talvez assim a sua culpe diminua, por ser partilhada.

O que é que nos torna humanos?
Certamente que não são as reacções primárias. Essas todos os animais têm.
Gosto de quem tem a arrogância de querer ser superior a isso.

Ti           
Agosto 2010

Isabel lenda

Ela não estava inspirada,
ele também não.
estavam ambos cansados,
gastos,
abatidos

O professor mandou fazer um trabalho de grupo.
Eles calharam juntos
sem que (dessa vez) fizessem alguma coisa por isso
O namorado dela pareceu ficar chateado,
mas não podia fazer nada.
A namorada dele ficaria mesmo chateada,
mas não era da turma deles.
Eles estavam os dois cansados,
vencidos pela vida
Talvez por isso não ficaram esfuziantes de felicidade pela oportunidade de estar juntos
ficaram só felizes,
com aquela felicidade cansada que produz o sorriso mais generoso

Nessas duas horas que estiveram embrenhados no trabalho
e um no outro
acabaram por produzir um trabalho mediano,
muito abaixo do que era hábito e das suas potencialidades…
mas foi bom
estiveram em paz
estiveram até em perfeita sintonia.
não se deixaram afectar pelo habitual turbilhão de hormonas
ao contrário do que sempre acontecia não se desejaram
nem se importaram se o outro desejava ou não
nem se outros achavam que eram amantes secretos
nem se o trabalho estava bem ou mal feito
nada, nada os afectou n’aquelas quase duas horas
que, talvez por isso, pareceram um bocadinho de céu

no fim,
olharam-se no fundo dos olhos
as almas sorriram-se
entregaram o trabalho
e foram embora
sem saber quando se voltariam a ver

Ti          
Dezembro 2006

Por toda a minha vida

Eu sei que vou te amar
não consigo deixar de amar
é sempre assim,
depois de começar
a amor nunca mais tem fim
Por toda a minha vida eu vou te amar
e quando para ti eu for só
um resquício de memória
limpo com um trapo do pó
sem sequer ter história
Em cada despedida eu vou-te amar
e vão ser tantas, tantas!
quando perceberes que não me queres
as vezes serão quantas?
que me partirás o coração quando fores
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
e por mais que fuja
não vou conseguir
limpar a minha alma suja
de tanto te perseguir
E cada verso meu será para te dizer
que eu sei que vou te amar
por mais voltas que dê
encontro-me sempre aqui
onde tudo o que se vê
foi feito para ti
Por toda minha vida
para sempre, sempre, sempre
estás entranhada na minha pele
mesmo que não me lembre
o meu coração tem-te nele
Eu sei que vou chorar
como uma fonte
carpir até ficar seco como papel
vazio, deixado num monte
vagando ao vento como fel
A cada ausência tua eu vou chorar
e como faltas… quando faltas…
fica tudo vazio, como que sugado
até para as árvores mais altas
não há Sol, está tapado
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
e levar as nuvens, a tristeza,
a saudade e a desalegria
fica só o bom, a leveza
e fica o teu nome Maria
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
e para sempre vou querer
mas nunca me vais dar-te
ainda assim nunca vou aprender
a não ficar vazio quando o teu ser parte
Por toda minha vida
toda a minha vida…
toda a vida…
a vida..
vi…

Ti (Vinícius)
Outubro 2006

BOOMzinho…

Hoje queria mesmo acabar com tudo
queria dizer-te que já não suporto mais
que não precisas de sair, eu própria me mudo
ou que me apetece ficar, e tu é que sais
Quero atirar-te com todos os jarros de flores que me deste
dizer palavrões que nunca disse
exportar-te para um país de leste
revelar-te que o meu verdadeiro nome é Alice
Mostrar-te que as minhas mamas são de silicone
que detesto saltos altos e homens peludos
e mesmo que não funcione
quero ser mãe de cinco putos

Mas não,
Não vou conseguir,
são tudo desejos em vão
acabo sempre por ficar em vez de sair

Vou ficar feliz por te ver,
vou mendigar as tuas migalhas
vou ficar sem forma de ser
e arrumar as tuas tralhas
E isto porque tenho medo que vás
e me deixes no mar alto sem pé
se calhar por achar saber a falta que faz
qualquer coisa que nem sei o que é

Vânia, 2 de Setembro de 2006

Capitão Romance

Não vou procurar quem espero
Se o que eu quero é navegar
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar.

Parto rumo à primavera
Que em meu fundo se escondeu
Esqueço tudo do que eu sou capaz
Hoje o mar sou eu…

Esperam-me ondas que persistem
Nunca param de bater
Esperam-me homens que desistem
Antes de morrer

Por querer mais do que a vida
Sou a sombra do que eu sou
E ao fim não toquei em nada
Do que em mim tocou

Eu vi,
Mas não agarrei…

Parto rumo à maravilha
Rumo à dor que houver pra vir
Se eu encontrar uma ilha
Paro pra sentir

Dar sentido à viagem
Pra sentir que eu sou capaz
Se o meu peito diz coragem
Volto a partir em paz.

Eu vi,
Mas não agarrei…

“Capitão Romance” – Ornatos Violeta.

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