Já sei tudo

o que vai acontecer
sei de cor para onde me leva esse caminho
que novidade pode haver
se já o percorri sozinho

podemos agora seguir juntos e isso fazer a diferença,
mas se a soma de nós não é dois
é uma anulação

E como eu gostava de me anular para ti
mas és tu que te anulas
ou pior, sou eu que te zero
e tu a mim também

Sem ti sou diabólico, capaz de todas as vilanias
contigo não fico bom, fico neutro
incapaz de não nada.

Basta!
Prefiro ser notável por execração
a ser bondoso por omissão
Lutar-te-ei com todas as forças
e no fim vencerá o mais forte, como nos contos de fadas.

Se o mais forte é o bem?
Não.
É só o que conta a história.

Poetas

Há quem diga que o artista tem que ser livre; não tem que se importar com forma, conteúdo ou objectivo, mas isso seria fazer nada e fazer nada é coisa para monjes ascetas, não para criadores.
O artista faz arte e isso tem que ser alguma coisa.

Há um desescrever nos poetas que me dá asco!

Escrevem ao contrário, torto, sem sentido
só porque sim.
Há quem diga que o artista tem que ser livre; não tem que se importar com forma, conteúdo ou objectivo, mas isso seria fazer nada e fazer nada é coisa para monjes ascetas, não para criadores.
O artista faz arte e isso tem que ser alguma coisa.

pess2

Depois há outras coisas:
Poetas que não são bêbados,
que não fumam,
que fazem jogging, ou running
Isso não são poetas.
Poetas são decrépitos,
são à-rasca,
Comem porque calha
lavam-se porque ralham
E são feios.
Se não tiveram a sorte de nascer deformados,
deformam-se eles de uma forma trágica.

O poeta tem que ser chanfrado!
Os outros são uns merdas e vão todos acabar sozinhos com toda a gente,
como toda a gente.
O poeta, vai ter-se para sempre.

Restos:

Vós não sois más pessoas;
sois piores, sois restos de civilizados.

Percebo que o medo leve a preconceitos, há aliás estudos que o provam.

Tratar alguém como indigente porque o achamos (independentemente de ser ou não) é reles.

Não julguem que me acho melhor do que vós. A única diferença é que tenho vergonha de discriminar enquanto vós o fazeis sem pudor.

Da próxima vez que sussurrardes “cigano” ou “pedinte”, lembrai-vos que todos os dias vos penso bestas, mas não o vocifero como um parvalhão que, sem conseguir, tento não ser.

Ainda assim, se eu seguisse o meu próprio conselho, calar-me-ia e deixar-vos ia viver a vossa vida.
Tal como não vale a pena ensinar a tabuada a um cão, porque nunca conseguiria aprender, também não espero que deixemos de ser descriminatórios nos pensamentos, mas rogo-vos que pelo menos deixeis de o assumir com garbo e remeteis essas ideias ao opróbrio do silêncio.

As melhoras.

Matias

Matias é português, casado, benfiquista, católico e uma besta.
A sua mulher é uma feminista parva, que emite opiniões fortíssimas acerca de tudo, de forma violenta e pública.
Matias está invariavelmente contra as opiniões de sua esposa e tem vergonha de quase tudo o que ela diz e faz.
Matias decide divorciar-se porque não faz sentido estar com alguém que não faz sentido.

Matias vai viver com um amigo que é ainda mais benfiquista, mais católico e mais abestalhado.
A sua ex-mulher diria que ele é um gay reprimido, mas Matias sabe bem que aqueles abraços ao amigo só acontecem quando o Benfica marca e nada têm que ver com paneleirice.

Em pouco tempo Matias descobre que o amigo não passa de um panasca reprimido e, depois de ir morar sozinho, passa dois meses a ir às putas.
Sentindo-se de novo o pináculo da masculinidade, decide ligar à mulher que lhe diz que uma vez por mês contrata os serviços de um profissional para lhe “limpar as teias de aranha” e fora isso nem se lembrava que já tinha sido casada com um cão.
Matias recusa-se a ficar afectado. Não é uma gaja qualquer que o deita abaixo.
Pelo sim, pelo não, apanha uma carraspana de caixão à cova e apanha uma boazona na rua que leva 20€ por uma mamada.

Acorda 1 hora depois com o carro enfaixado contra um caixote do lixo. Tem vagas memórias de ter expulsado a meretriz ao pontapé depois de descobrir que era um travesti.

Liga imediatamente ao padre que era director do colégio em que andou em garoto e, com a voz sonolenta, o padre concorda em recebê-lo ao fim do dia.

O padre começa a conversa com a habitual paciência clerical e explicando que, “se um homem não tem objectivos, então também não tem utilidade”. A única coisa que preocupa Matias é o travesti. Quanto a isso o padre diz que há médicos que podem ajudar com tratamentos para a homossexualidade. Matias fica ofendido, solta impropérios e o padre, exasperado, manda-o para o raio que o carregue.
Não havendo raio, carregou-o uma maca da emergência para o hospital. Diagnosticaram-lhe diabetes, colesterol, triglicéridos e tensão alta, deram-lhe 7 medicamentos diferentes, para juntar aos anti-depressivos, aos ansiolíticos e aos calmantes, perfazendo 32 pastilhas diárias. Teve sorte – foi um AVC fraquito.

O tempo foi passando e com ele o número de pastilhas foi aumentado, assim como a quantidade de Gin, que paulatinamente ia arruinando fígado e carteira.
Ao fim de poucos anos Matias passou a ser só um limão. Amargo, amarelo e intragável. Deixou de ser português, porque Portugal era uma merda, deixou de ser benfiquista, porque o Benfica, mesmo quando ganha, joga sempre mal. A mulher e os amigos eram todos uns ressabiados invejosos e Deus não queria saber.

A 1 semana de fazer 50 anos estava acabado. Mal sabia que ainda duraria mais 42 anos. Mas contar o resto seria só tortura.

Dedicatória delicada

Vai pró raio que te parta
não mereces nada
Desnasce de uma vez

Olha lá ó meu asqueroso chupista
Tu já viste que que a única coisa que produzes de útil
é esse estrume desnutrido quando vais à casa-de-banho?
porque as fezes que dizes são tóxicas
e isso apenas pode ser descartado para um aterro devidamente isolado,
junto com o material radioactivo.

O que tu dizes não é nuclear, é antimatéria.
É mais vão que o oco, mais inútil do que adoçante no mel.

És mais estúpido do que o próprio conceito.
O ar que inspiras, fica irrespirável
és uma doença contagiosa, um vírus purulento.

Mereces tudo
alteres, bigornas, guilhotinas,
lançados de muito alto, pela cabeça abaixo.
Que todas as pestes te persigam
que todas as doenças te matem
e depois te ressuscitem
para te matar outra vez

Vai pró raio que te parta
não mereces nada
Desnasce de uma vez
.

porcaria (ou consideração em Si menor)

Você é um ser desprezível!
Não por ser vil ou sequer desagradável,
apenas por não ter utilidade nenhuma

Si menor2Quero agradecer-lhe,
tenho toda a consideração do mundo por si,
que me lê
mas isto por si só, não lhe dá mérito,
poderá é dar-se o caso do mérito
ser motivo de consideração

mas considerando que
a consideração que lhe tenho
deve-se apenas ao facto de me estar a ler
e por isso me massajar o ego,
tenho que concluir que o que tenho por si
não é verdadeiro,
é só agradecimento por me reconhecer.

Mas se me reconhece por esta…
porcaria
descubro que não tenho qualquer consideração por si
porque isto que aqui lê
não é mais que perda de tempo, não tem valor

E, se V. Exa., gasta olhos e tempo e energia
a ler esta porcaria
não é dotada de qualquer mérito,
e merece de mim, portanto,
desprezo

Termino este agradecimento,
retirando-o
e desejando-lhe as melhoras!

Você é um ser desprezível!
Não por ser vil ou sequer desagradável,
apenas por não ter utilidade nenhuma
e, por isso, pode
e deve
ser desprezado.

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