Dedicatória a Supernova

Gostava de saber
se és tão intensa como dantes
Se algum homem te ama com metade da força que mereces
Se és sequer possível.

Não me parece.
Apesar de não te encontrar em nenhum obituário,
tenho como certo que não podes existir
Não como eras, não tu.
Podes haver como sombra do teu espectro,
mas não com o esplendor que serias se fosses.

A força centrífuga da tua paixão era tão grande que me projectou para longe
Mas aí eras ainda pequena,
uma Supernova

Agora deverias ser uma estrela
no mínimo
talvez até uma galáxia
…mas, por mais que procure
não te vejo a luz.
Isso só pode querer dizer uma coisa:

Transformaste-te num buraco negro,
onde a luz vai para morrer

Ainda tens tudo dentro de ti
mas tão implodido que nunca sairá
Pelo contrário
Tudo o que se aproximar
será sugado
Não és vazio
és criação de vazio.

Gostava de te ver com o brilho com que te imagino,
mas, se o tentar, provavelmente serei sugado para a inexistência.

Resta o que foi de nós.
O que é ou será de nós não importa.
Fiquemos nos mesmos lugares
Se há coisa segura são as memórias que nunca contamos.

É lá que ficarás. Para sempre.
Nas memórias secretas.
Com aperto de braços
e sorriso de canto de boca que só eu conheço.
Nem tu sabes quanto ainda cintilas no que passou.

IA – Inutilidade ou Arte

A Inteligência Artificial(IA) irá substituir os escritores?

Sim. Provavelmente isso será inevitável.
Isso e muito mais, especialmente para os lógicos, os inteligentes, os que se regem pelo que faz sentido. Para esses será inevitável que a IA “tome conta” da geração de ideias, resolução de problemas, criação de arte, optimização de colheitas e trabalho em geral.

Robot Pessoa

Não fará sentido discorrer mal sobre assuntos porque qualquer IA fá-lo-á melhor.
A inutilidade será total, a falta de sentido inevitável.
Será magnífico.

Porque para os chanfrados, os terraplanistas, os conspiracionistas, os adeptos, os religiosos, os que têm medo do escuro, os que detetam notas de violeta em goles de vinho e para os fantasmas, nunca nenhuma IA funcionará.
Esses quererão sempre o inútil.
E é assim que se descobre a verdadeira arte. Pela inutilidade está comprovada a sua artisticidade.

Onde começas?

Onde acabas?

Acordo sempre forte,
pronto a derrotar o mundo
mas a benção dura menos do que minutos.
Penso-te outra vez.
e nunca mais paro, até me render (outra vez) ao sono.
Aí, onde nunca entra nada, nem sonho, nem pesadelo;
aí finalmente deixas-me em paz…
…ou nisso onde estou quando tu não

nunca espécie de lago inerte
nada dói, nada assusta
mas nada entusiasma
nada frui.

Que seja sempre Verão – Pablo Alborán

.

Pablo Alborán

Finges que as coisas não me doem
que a tempestade não voltará
Creio em cada palavra da tua boca
Mas se escondes mais do que uma derrota
Não adivinharei tua pele

Sei que não te dás bem com o meu passado
às vezes tendo a correr
A canção onde destruo a tua armadura
Tenho coragem para me esquecer das dúvidas
Mas há finais que não quero prometer

Aperta-me a mão
Que seja sempre verão
Que o nosso amor não dependa das vezes que nos digamos “te amo”

É simples, não precisa de muito trabalho
é olharmo-nos nos olhos
E sentir que há ali algo

Tu acendes
E eu apago as luzes
Há lágrimas que não vais entender

Se iluminas, que seja toda a nossa sombra
Se ilumina-la imediatamente nos destrói
Será melhor deixar de ver

Eu sei, não te dás bem com as minhas ausências
Não há vez em que não queira voltar
Se o teu riso é a mais bela das fontes
A razão de todas as pontes
Não me quero proteger do teu destino

Aperta-me a mão
Que seja sempre verão
Que o nosso amor não dependa das vezes que nos digamos “te amo”
É simples, não precisa de muito trabalho
É tremer em cada passo
Enquanto me vou aproximando
É olharmo-nos nos olhos
e sentir que há ali algo

Tradução livre de “Que siempre sea verano” de Pablo Alborán

Calei-me

Quando os nazis levaram os comunistas, eu calei-me, porque eu não era comunista.

Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque eu não era social-democrata.

Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque eu não era sindicalista.

Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque eu não era judeu.

Quando eles me levaram, não havia mais ninguém que protestasse.

Martin Niemoller

Já sei tudo

o que vai acontecer
sei de cor para onde me leva esse caminho
que novidade pode haver
se já o percorri sozinho

podemos agora seguir juntos e isso fazer a diferença,
mas se a soma de nós não é dois
é uma anulação

E como eu gostava de me anular para ti
mas és tu que te anulas
ou pior, sou eu que te zero
e tu a mim também

Sem ti sou diabólico, capaz de todas as vilanias
contigo não fico bom, fico neutro
incapaz de não nada.

Basta!
Prefiro ser notável por execração
a ser bondoso por omissão
Lutar-te-ei com todas as forças
e no fim vencerá o mais forte, como nos contos de fadas.

Se o mais forte é o bem?
Não.
É só o que conta a história.

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