Cansaço

Não é por teres feito muito,
não é por estares cansada,
não é por estares deprimida.

Estás cansada porque não tens razão para acordar de manhã,
tens nada teu – é só o que queres ter.

Tens vontade de nada,
queres coisa nenhuma.

E agora nem o espicaçar resulta
Estás morta por dentro,
e já se vê por fora.

Pára!
Faz, ou suicida-te.

Ti           
Setembro 2008

amiga! a paixão não é amor, nem tampouco o é o quentinho…

– O miúdo não tem cabedal para ti e tu sabes!
– Não sei se é exactamente assim… Ele é muito inteligente e aprende depressa.

– Sim, mas também não te podes esquecer que é 17 anos mais novo do que tu, e por mais inteligente que seja, tem sempre menos esse tempo de experiência do que tu!

– Pois, é verdade. Mas o que importa é que estamos ambos apaixonadíssimos e não conseguimos pensar em mais nada senão estarmos juntos…

– Bom, eu não queria ser a parvalhona de serviço, mas tenho que ser. Aqui vai:
Tens noção de como eras quando tinhas 24 anos?

– Porque é que não páras de me chamar velha?! Sabes que isso me magoa!

– Não te estou a chamar velha, aliás nem sequer acho isso e também não és tu o problema desta relação. O problema é que ele tem 24 anos! E tu estás a manipulá-lo.

– Ei!

– Ei, nada. Agora senta-te e ouve.
Tu sempre foste espectacular e é natural que te esqueças que os homens ficam parvos ao pé de ti. Estás habituada a conseguir tudo o que queres e por isso também não estás habituada a contar com contrariedades, mas não podes esperar que os homens se apaixonem apenas pela tua personalidade. A verdade é que é impossivel dissociar o efeito hipnótico que tens sobre os homens, de todo o resto da tua personalidade; por isso não podes esperar que gostem de ti apenas pela tua mente – eles estão sob hipnose!

– Obrigada, és muito simpática…

– Não sou nada, na realidade tu és mesmo assim.

– Eu acho que exageras um bocadito, mas ainda assim agradeço.

– Pois, mas eu ainda não acabei.

– Então continua.

– Como os homens ficam parvos perto de ti, tens uma responsabilidade maior, que é a de pensar por ti e por eles. Não podes esperar que tenham o discernimento de pensar se realmente te Amam ou se estão simplesmente cegos.

– Supondo que tens razão, estás a querer dizer que eu e o Sancho não temos futuro porque ele está apenas cego e não apaixonado?

– Não, não é nada disso. Tens é que ter o cuidado de não acreditar nele quando diz que te ama.

– Eu não sou propriamente tótó e, ou ele é um excelente actor, ou então é mesmo sincero quando o diz!

– Tu não és nada tótó, antes pelo contrário, e também me parece que o Sancho é mesmo sincero quando diz que te ama. O problema é precisamente esse. Ele acredita mesmo nisso e sente-o, e por isso mesmo é que tu tens que saber distinguir se é uma paixão avassaladora – e por isso temporária –  ou se é o verdadeiro Amor – o eterno.

– Não sei se concordo, mas vou pensar seriamente nisso.

– A mim chega-me. De qualquer modo estarei cá sempre, quer se zangem, ou casem e tenham muito filhotes.

– Obrigada amiga!

Vânia, 27 Agosto, 2008

Engordar com ar

Há mais de um mês que como pouco mais que ar e vento e mesmo assim o meu rabo insiste em enrugar-se sobre si mesmo, e como se não bastasse, começa a formar-se uma proeminência a que o meu ex-namorado insiste em chamar “michelins”, só para aumentar a minha depressão.

Já decidi o que fazer: Para grandes males, grandes remédios – esta semana estou a pão e água!

Se mesmo assim não resultar nunca mais quero saber disso para nada. Arranjo um homem que goste de gordas e uso a inteligência em vez da sensusalidade para ganhar dinheiro!

Nárnia! 23 de Julho de 2008

mais nada

Eu sabia que um dia isto me iria acontecer, era inevitável!

Nunca consegui amar alguém o suficiente para não ir ou mandar embora, e agora sinto-me um bebé de colo quando me abraças…

Tenho sempre medo quando sais, nem que seja apenas por algumas horas, fico como uma menina perdida num aeroporto, sem saber quem sou, ou o que devo fazer; não consigo pensar, apenas sentir a dor da tua ausência…

Tantas vezes me confessaram o mesmo e eu fingia compreender, mas não conseguia saber o alcance desta demência que é amar!

Vânia, Fevereiro 2008

nada

Para quê juntar nuvens e formar tempestades,
sempre que tudo está perfeito?
Porquê deitar abaixo o castelo de cartas,
quando falta uma só para ficar feito?

será por medo, ou obsessão,
será por falta de vontade
ou apenas de um coração?

Sei que não minto quando digo amar-te,
Mas sinto culpa se me dizes o mesmo.

Dizes que preferes assim: ter-me quando é possível, e deixar-nos apenas quando tiver que ser. Tenho que respeitar-te e aceitar que é como dizes, mas sei que tens esperança que eu não queira partir de nós. Sei que acreditas que podemos ser para sempre, é por isso que me sinto traidora quando me confessas o teu amor, é por isso que sinto um sufoco quando me te entregas tanto.

Vânia,  Fevereiro 2008

Crónicas de Vânia – parte 1

Sempre fui muito bonita e também sempre soube disso. De qualquer maneira isso não me parece razão para ter tudo o que queira.

Às vezes julgam-me convencida porque digo que consigo ter qualquer homem que queira. Na realidade acho que isso é uma maldição. Acabo sempre por achar fácil demais. Os homens apaixonam-se todos só pelo que é superficial. Normalmente bastam algumas horas para fazer com que fiquem a pensar em namoro…

É verdade que ainda sou muito nova, mas isso não justifica o meu levianismo.

Houve um tempo em que estava tão irritada com esta falta de selectividade por parte dos homens, que deixei de ter o mínimo cuidado com a aparência; Usava calças justas e vermelhas a combinar com t-shirts largas e amarelas, usava gorros velhos e pintava as unhas de verde.
Confesso que foi muito divertido, especialmente quando obrigava os homens a mentir por perguntar-lhes o que é que achavam do meu cabelo azul, ou daqueles sapatos horríveis amarelo-leopardo, e eles diziam depois de se engasgarem que eu estava… diferente.

Cresci educada a acreditar que o trabalho e mérito são o que nos leva onde queremos, mas a vida leva-me a crer que não é assim…

Vânia,  Janeiro 2007

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