Dedicatória

És um clichê, um chavão, um loop, uma repetição infinita de coisa nenhuma!
Todo o teu brilhantismo e fama deve-se à impecabilidade inútil da tua reflexão na lisura oca dos que te rodeiam. Pensas que pensas, mas esse papaguear que vem do vão da tua vaziez tem em si nada. As ideias espectaculares que ejaculas dessa tua (de)mente são novidades e até inovações, mas só para os excretos satélites que te fazem pensar útil. És um cepo carcomido pela traça, um subproduto de baldo. A tua função no mundo é destruir a lógica, fazê-lo perceber que nada é possível e o contrário.

Amo-te assim!

Se não percebes que isto é o verdadeiro amor, foda-se!

 

Adão Demo, Maio 2014

da simplificação

Deus não é simplificável.
Alguns dizem que não é explicável e logo a seguir continuam o raciocínio tentando explicá-lo, de forma simples e compreensível! Isso é incompreensível!

Caca

Amor é caca!

Veio de mansinho, com candura e olhos brilhantes
deu carinho, companhia e toques de pele
nunca pediu nada,
nem levou…
O Amor apareceu porque lhe apeteceu
e ficou tudo luz,
desexistiu o breu

Não sei quem foi a mãe que o pariu e também nunca o vi com nada seu.
Instalou-se quando quis, e sem ser convidado, o filho dum cabrão.
Parecia bom, parecia doce, parecia leve, parecia quente, parecia mesmo que me queria – a mim especificamente. Mas não passava de um porco, frio e calculista, pesado e sem razão, depravado e egoísta.
Envolveu-me o músculo pulsante, e a princípio ajudou-o a bater, depois desatou a apertá-lo com fúrias aleatórias… e o que era sonho, abraço e gargalhada, ficou em grito, escuro e mais nada.
por fim retirou-se, depois de o sugar por inteiro, deixando-o mirrado, abafado, e quase morto.

O amor – com minúscula, como deve ser – é um arrebatador, sensual e brilhante cabrão!
Sei que não vai ter coragem de voltar a aparecer-me pela frente, mas se esse defeco de vaca leprosa pensar sequer em passar por perto, cumprirei com gosto a pena perpétua – que já cumpro por culpa sua – de carrasco do Amor, do amor, ou do môr ou seja lá que nome fôr.

Adão Demo,  Dez 2008

Sociedade sem classes!

Acho que finalmente nos encaminhamos para uma sociedade perfeita!
Depois do anúncio dos novos escalões de IRS vamos tornar-nos na primeira sociedade sem classes! Os ricos fugirão do país, os remediados passarão a ser pobres e os pobres sê-lo-ão, como sempre!
Assim, podemos finalmente ter uma sociedade igualitária:

  • todos terão créditos impagáveis;
  • todos terão tempo livre de sobra
  • as famílias estarão muito mais unidas, porque não haverá dinheiro para os filhos saírem de casa dos pais
  • as artes estarão melhores do que nunca, porque passaremos todo o dia a tocar guitarra
  • e até os dermatologistas terão mais clientela, com tanta “coçação”

 

A saudade que faz a falta ausente de coisa.

Houve tempo de sentir (ia dizer falta, mas sentir seria suficiente)
não lembro bem esse tempo,
mas existiu

depois veio a vida e deu-me igualidade aos outros,
deu-me rotina e certeza do futuro… baço
a sociedade (bicho que é pau para toda a colher)
acredita que o desbrilho certo é melhor do que…
… o resto

o resto é mesmo isso
o que sobra

sentir era muito
bom ou mau não importa

tudo é meão
nem sim,
nem não
tudo é nim
e vão

Adão
9-2011

Depravação.

Eu não faço amor com a minha mulher.
A minha mulher é especial, não é como essas rameiras que gosto de usar aos fins-de-semana. Ou como aqueles animais estranhos que andam pelo Intendente e que gostam de levar no cú. Eu sou cliente de tudo. Todas as porcarias novas que inventem, eu estou lá. Até bonecas insufláveis!
Mas a minha mulher? Essa é sagrada. É a pessoa mais integra, dedicada e boa que conheço e é óbvio que não vou conspurcá-la com depravações indignas.

Adão           
Outubro de 2010

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