Morreu-se-me

Enfim termina neste dia, o verdadeiro que tentei ser-te.
Ser-te-ei mais perfeito e útil, menos eu, mas menos inútil.
Deseja-nos sorte, vamos precisar
Tu tão tu e eu tão nada
temos ainda tanto que caminhar…

Sempre achei que não gostavas do que eu pinto porque terás mais talento do que eu
e por isso ser-te-ia penoso veres os meus trabalhos sofríveis.

Também sempre pintei mais do que tu, mas nunca melhor…

para mim pintar é um real prazer e, mesmo que por vezes me mova a esperança de um reconhecimento improbabilíssimo, a grande maioria das vezes pinto apenas por puro deleite, sem objectivo nenhum que não o próprio acto de o fazer.

Nunca fui, nem serei tão bom pintor como tu. Sabes como misturar as cores, sabes como e quais os pincéis a utilizar e consegues reproduzir exactamente o que a tua mente imagina.

Disseste-me: “Não pintes a esta hora, os pincéis fazer demasiado ruído para uma hora tão tardia”

Hoje descobri que não desgostas da minha arte
simplesmente a achas execrável
inferior, reles, inglória, inútil e sobretudo
incómoda e desconfortável
não com aquele sentido que os artistas gostam de dar,
aquele que indica que a arte é tão boa que só maus se sentem incomodados por ela.

Tu és boa.
e, por isso, o incómodo e desconforto da minha arte não é meritório,
é-te um pau de giz a zurrar num quadro de lousa,
é um talher a raspar aos gritos num prato.
É isto que te inflijo quando pinto.

Peço-te que me perdoes por querer alegrar-te da mesma forma que alegrei tantos antes de ti;
esses que me pediam desenhos e que me aplaudiam sem razão.

Fui arrogante ao pensar que poderia alguma vez soar bonito aos teus olhos,
esses olhos habituados a perfeição e beleza.
Não são essas as minhas formas e cores, nunca serão
por isso hoje aqui te juro que jamais me verás pintar
jamais te chegará algum quadro meu por minha mão.

Não posso jurar não pintar nunca, porque eu sou pintar
não posso afiançar que te nunca cruzarão o olhar cores da minha paleta
Mas se o destino assim quiser, não será por minha vontade ou mote

Terei em ti mulher, como até agora,
mas, como nunca antes, terei nas telas amantes
chegarei tarde, inventarei desculpas,
mentir-te-ei com todo o engenho que souber
Também não posso prometer que não haverá bastardos,
mas posso também firmar que não te serão por mim apresentados

Enfim termina neste dia, o verdadeiro que tentei ser-te.
Ser-te-ei mais perfeito e útil, menos eu, mas menos inútil.
Deseja-nos sorte, vamos precisar
Tu tão tu e eu tão nada
temos ainda tanto que caminhar…

Obrigado! Volta sempre que puderes! É bom saber de ti!

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