O homem decidiu cortar o cabelo, estava farto de ter aquela melena informe e inexpressiva e, por isso, tomou a opção radical de fazer um corte bem aprumado, quase militar.
O barbeiro era daqueles inpirados artistas que acham que o corte de cabelo é uma obra de arte ambulante e portanto demorou o seu tempo a esculpir, com tesouras de todos os tamanhos e feitios, o que achava que seria o corte perfeito para aquela cabeça.
O homem andou orgulhoso e com a cabeça bem erguida durante todo o dia. Quando finalmente chegou a casa a mulher olhou-o realmente chateada e disse-lhe:
– Não me digas que ainda pagaste por isso? – Enquanto lhe apontava a cabeça.
Noutro dia qualquer o homem teria ripostado e até talvez ofendido a mulher tanto quanto o que ele se sentira, mas naquele dia ficou desolado, nem sequer triste só desolado.
Quando a revolta pelo despoio da mulher cresceu nele, em vez de gritar ou de lhe dizer disse simplesmente:
-Vou beber uma cerveja.
– Mas tu nem sequer bebes cerveja! – atirou-lhe a mulher incrédula.
– Pois não.
Foi a última vez que falaram. O homem continuou sem beber cerveja, mas agora o cabelo muda de côr todos os meses.