Sempre fora Rei;
Mesmo ao nascer, e enquanto crescia – sempre fora educado para ser Rei.
Quando finalmente tomou o trono estava mais preparado do que qualquer dos que o antecederam.
Tem enorme talento.
Sabe perfeitamente que o lugar que ocupa é de grande solidão, mas também isso não é novidade para ele que, desde muito pequeno, fora habituado a longos isolamentos, que sempre cumpriu escrupulosamente.
Duas vezes em cada ano estende um pano grande no chão e coloca em cima dele uma muda de roupa, um livro e algumas tiras de linho branca, parecidas com cachecóis, depois une os quatro cantos do pano, ata-os deixando uma ligeira folga, por onde depois enfia uma espécie de cajado. É assim, apenas com o cajado e a trouxa, de uma forma quase medieval, que parte sem destino durante o tempo que o vento quiser. Houve algumas vezes em que a viagem durou apenas alguns dias, mas muitas vezes mede-se em semanas e houve já algumas viagens de meses.
Um dia ganho coragem e vou com ele.
Também ia, se pudesse…
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De facto é preciso reunir coragem para partir, para deixar o que nos é aparentemente conveniente, confortável, conhecido.
Mas não será necessária tanta, ou mais coragem, para permanecermos, no mesmo local de sempre, com as mesmas pessoas de sempre, a mesma rotina de sempre?
Provavelmente será necessário reunir ainda mais coragem para descobrir quais os verdadeiros propósitos que nos incentivam a viajar, ou a ficar.
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