Deixou isto tudo a feder.

– Bom dia, peço desculpa por estar a incomodar – disse o homem que tinha ar de quem não tomava banho há várias semanas.
– Sim, diga! – respondeu o rapaz novo e impecavelmente penteado da loja de produtos Gourmet.
– Eu tenho Sida e estou com as defesas muito em baixo. Eu não sou nenhum animal, mas estou a dormir na rua, naquela loja abandonada ali mais abaixo…
– Sim, e o que é que pretende? – O rapaz estava visivelmente agastado com aquele maltrapilho!
– Calma que eu não lhe vou pedir que compre um edredão novo!
– Sim?
– O que eu queria era que, se me pudesse ajudar, me desse dinheiro para umas meias porque as minha ficaram ensopadas com o nevão durante a noite.
– Pois, mas aqui dentro da loja não podemos dar nada.
– Mas eu não lhe estou a pedir nada! Só quero trocar de meias porque estas estão ensopadas, já ficava contente se me desse as suas.
– Como já lhe disse não podemos dar nada aqui dentro.
O maltrapilho dirigiu-se para a saída.
– Muito obrigado, Deus o ajude. Eu não sou um animal!

Entretanto o patrão, que estivera atrás de um biombo o tempo todo, inspecciona a loja.

– O raio do pedinte deixou isto tudo a feder! Que porcaria de pivete!
O empregado começou lentamente a despir a farda.
– Samuel, onde é que pensa que vai, a sua hora de almoço é só daqui a 10 minutos!
– Vou-me embora.
– Está a brincar comigo?
– Despeço-me. Adeus!
Saiu a correr, a tempo ainda de apanhar o pedinte maltrapilho mais ao fundo da rua.

– Eh , eh! Eu não roubei nada! Sou uma bosta, mas não roubo!
– Calma homem, vinha só perguntar se já almoçou!
– Não almocei, nem jantei ontem! E hoje vou dormir outra vez a tremer como um cão. Mas eu não sou um animal!
– Então fazemos assim: Hoje almoça, janta e dorme em minha casa!
– Você é rabeta?
–  Ah, ah, ah , ah! Não, estou só a tentar ser gente.
– Está bem, comer aceito, mas dormir não.
– Você é que sabe! Mas também pode tomar um banho se quiser!
– Devo ter um cheiro a bedum que até mete nojo! Isso aceito!

Quem os visse descer a rua pensaria que seriam duas pessoas importantes, tal era a velocidade com que todos abriam caminho para que passassem.A realidade era que o pedinte fedia de tal modo que todos se afastavam.

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