Um viajante oferecera um estranho objecto ao monge, para agradecer a sua bondade e hospitalidade. Chamara-lhe “espelho” e era uma espécie de parede que reflectia tudo o que tinha pela frente.
O monge gostou do presente e resolveu meditar em frente a ele, para canalizar boas energias e sorte para o estranho.
Todos os dias meditava, e todos os dias a sua própria sorte melhorava.
O monge acumulava já muitas riquezas e méritos, quando percebeu que o espelho reflectia tudo o que tentava enviar para o estranho, acabando os méritos por ir para si próprio.
Quando percebeu isto, viu que o espelho era precioso e por isso escondeu-o numa gruta que só ele conhecia, com medo que se partisse, ou que o usassem de modo errado.
Ficou tão obcecado com o seu precioso tesouro que nada mais o preocupava e, apesar de nunca ir ver o espelho, por medo de que o pudessem seguir e roubar-lho, sentia-se rico por tê-lo.
O tempo passou e o monge com a sua obsessão esqueceu-se da meditação, da caridade, dos exercícios. Lentamente foi perdendo tudo o que o espelho o tinha ajudado a conseguir, até ficar muito mais pobre do que era antes de o ter.
Quando finalmente não lhe restava alternativa dirigiu-se à gruta para reaver o espelho.
Ele lá estava, exactamente no sitio onde o deixara, mas o reflexo tinha desaparecido, carcomido por fungos, agora era apenas um mero vidro, incapaz de reflectir o quer quer que fosse!
Demorou muitos anos até descobrir novamente o caminho da humildade, mas finalmente conseguiu-o.
Já muito velho, quando se preparava para deixar este mundo, percebeu que tinha ainda mais riquezas do que tivera outrora e para isso limitou-se a fazer o que sempre fizera até aparecer o estranho com o espelho: dedicar-se a melhorar o que o rodeava. Quase sempre meditando, porque esse era o seu caminho, mas outra vezes simplesmente dando-se…
Alemente 